
Na esteira mortuária da última postagem, trago mais um fantasma cultural, que paguei caro a Caronte para traze-lo pelo inferno e purgatório das almas. Seu nome? Jeffrey Scott Buckley, mais conhecido como Jeff Buckley. Cantor, instrumentalista e compositor americano. Citei propositadamente o purgatório, não poderia ser outro o lugar. A música de Buckley apesar de rica em harmonia e melodias sutis, não era ouvida nem pelos entusiastas do som dito “alternativo”; nem pelos apreciadores da música tida como “sofisticada”. Isso, porque Jeff Buckley estava fadado ao purgatório em Terra; considerado por muitos, uma das vozes mais poderosas do mundo do rock, e ainda o guitarrista que fazia do solo a base simples e vice-versa com tanta naturalidade que para ele, bastava um efêmero baterista, e um baixista que soubesse bambolear um dedo. Ele sempre ouvia as pessoas falarem do seu pai, mas nunca conseguiu vê-lo como seu pai, ele dizia quando perguntaram o que ele achava do pai que morrera pouco depois dele ter nascido: “Não posso tecer opinião sobre alguém que conheci em uma semana na vida”.
Sua discografia é ridícula: Apenas um álbum comercial, chamado “Gracie”. Mas não se enganem; a intensidade de cada acorde; de cada letra; de cada nuance de tom de voz; levam o ouvinte a dezenas de estados de espírito em uma mesma música desse álbum; e suas performances são celebradas até hoje em DVDs póstumos.
A biografia do Mr.Buckley é uma verdadeira tragédia grega. Começa com o fato de ser filho de um artista já renomado, Tim Buckley, com um pai cantor famoso, ele se dedicou à guitarra, estudando em consagradas escolas para guitarristas, mas sempre ignorando a parte vocalizada da música, para evitar as comparações. Com a guitarra ele tinha uma ligação tão íntima e produtiva, que chegou a dizer que “um guitarrista tem uma orquestra em suas mãos”.
Em uma noite de homenagens ao seu falecido pai, ele espanta a todos cantando (1991). Ficando, todos pasmados com o seu talento vocal. Passou por bandas sem expressão, chegando às vésperas de assinar com uma grande gravadora por uma delas, e deixando-a pouco antes de assinar o contrato. Segue em carreira solo por bares e pequenas casas de show, até conseguir lançar seu primeiro e único álbum comercial em 1994. “Gracie” foi recebido com frieza pelo mercado, excetuando-se os admiradores ilustres de sua obra, entre estes estavam: Chris Cornell, Jimmy Page, Paul McCartney e Bono Vox. O pouco sucesso do álbum é compensado pelas performances em palco. Sempre com muito sentimento aflorando de forma vertiginosa e caudalosa nos shows.
Pelo contrato, ele deveria apresentar outro álbum em 1996; pressionado e vendo que o resultado não estava bom (ele era perfeccionista); Jeff resolve cancelar tudo. Isola-se para compor um novo álbum. Composições feitas, chega o dia das gravações. Ele liga para os integrantes da banda, e marca o dia e hora para gravar.
No vigésimo nono dia do mês de maio de 1997, dia da gravação, Jeff e um amigo dirigem rumo ao estúdio. Jeff resolve nadar em um dos afluentes do rio Mississipi. Enquanto o amigo voltava para o carro para guardar algumas coisas, via Jeff entrando n’água e cantarolando uma música. Depois de guardar as coisas, ele olha e já não vê Buckley. Ele desaparecera assim como surgira.
“Então... os sinos da torre da igreja tocaram
Queimando vestígios dentro desse meu coração
Pensando bastante nos seus delicados olhos e na memória
Dos seus suspiros. Está tudo acabado, está tudo acabado...”
Contava 29 anos, e tinha pouco mais de 3 anos de atividade profissional. As suas composições para o segundo álbum foram terminadas em estúdio depois da morte dele. Mas provavelmente não expressam todo o conteúdo que ele traria para o álbum, Sketches for My Sweetheart the Drunk. Na música “Gracie” ele diz: “Eu não tenho medo de ir mas estou indo lentamente”; mal sabia ele que estava indo tão rápido que pouco, o mundo, pôde senti-lo.
Sugestões de músicas para ouvir:
- lover, you should’ve come over
- Everybody Here Wants You
- Hallelujah by Jeff Buckley
- Dancing In The Moonlight
- Last goodbye
- Farewell Angelina
- Eternal Life
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